sábado, 28 de fevereiro de 2009

Sobre o Direito de Parir e Maternar

Gostaria de compartilhar com vocês a belíssima reflexão de uma mãe que está curtindo sua gestação do João (36 semanas). O texto é um pouco longo, mas garanto que vale a pena!
Sobre o direito de parir e maternar

"Outro dia, eu estava numa reunião de trabalho, e a nossa Coordenadora, dentro de um contexto, mencionou o fato de que em breve eu vou parir. Aquilo despertou uma inflamada questão semântica dentro do grupo, começando por um amigo que corrigiu, dizendo que “parir é coisa de bicho”. Começaram então a procurar outro termo mais adequado para designar o que eu faria, afinal de contas. Sugeriram “ganhar bebê”. Marcos argumentou achar isso muito estranho, como se fôssemos chegar na maternidade levando um bilhete sorteado e seríamos então “contemplados” com um bebê, que traríamos para casa, (quase da mesma forma que se “ganha” um carro depois de pagar o consórcio.) O termo “dar a luz” também foi citado”. Mas argumentaram lindamente que, falando assim, parece que o bebê está por enquanto nas trevas, e isso também é uma idéia um pouco estranha. Enfim, como esse não era o verdadeiro foco da discussão na reunião, e apesar de estar fascinada com toda aquela reflexão, eu acabei dizendo que me sentia mais confortável em PARIR mesmo, já que isso me trazia uma idéia mais ativa sobre o meu papel na questão, afinal de contas...
Mas daí tudo isso já tinha me aberto um leque de idéias sobre o assunto... Engraçado como nossa cultura vê o termo parir como obsceno. Essa palavra só é usada quando queremos ofender alguém: “é a puta que te pariu!”. Só as putas podem parir, e isso é muito sintomático. Pensar numa mulher gemendo, suando e eventualmente gritando é desconcertante. A sexualidade inerente num parto é difícil de se lidar, na nossa cultura... Mas isso não é diferente de todos os outros eventos femininos. “Mulher é um bicho esquisito, todo mês sangra”, como dizia a Rita Lee. Hoje temos teorias que dizem que a menstruação é completamente desnecessária e até mesmo prejudicial à saúde feminina, hoje temos “reposição hormonal” para lidar com os “horrores” dos sintomas do climatério na menopausa, e cesarianas assépticas e comportadas para libertar as mulheres do terror de passar por um parto. Mulheres começam a gravidez acreditando que terão um parto normal, e ao longo do caminho, subitamente, “mudam de idéia”, por causa de supostos “defeitos” que seu corpo apresenta: “meu médico disse que minha bacia é muito estreita, não tenho passagem”, não tive dilatação, meu bebê passou da hora de nascer... O útero feminino é um útero incompetente para manter os fetos, o leite materno é incompetente para manter bebês saudáveis, (e ainda vicia criança), o colo materno e inadequado e uma afronta à necessidade imperiosa de independência infantil... (ah, o mito da independência infantil!!)
Ainda pretendo estudar sobre isso, mas tenho a sensação de que o mito da independência infantil, nos moldes que se conhece hoje, tem relação estreita com as novas expectativas profissionais sobre a mulher. No fundo, nossa cultura NUNCA deixou de determinar o que a mulher deveria ser e como deveria lidar com seu corpo, sua sexualidade, suas escolhas. O padrão mudou, mas não mudou a necessidade de seguir sem questionar.
Gravidez não é doença!- diz a sociedade. E, nas entrelinhas, há a mensagem: A mulher grávida não tem direito a nenhuma condição diferenciada. Por mais que ela esteja aprendendo a lidar com um corpo totalmente diferente daquele a que se acostumou, por mais que seu “faro aguçado” possa, nesse momento especial sentir cheiros que ninguém mais sente, e passar muito mal com eles, por mais que o mundo devesse parar na primeira vez que ela sente seu filho se mexer dentro da barriga e ela percebe que sim, existe realmente um outro corpo, uma outra verdade consigo além dela própria... Isso não importa. Importa é não perder o ritmo produtivo, pois a “igualdade” entre homens e mulheres estabelece que a gravidez não pode fazer a mulher parar, e nem mesmo diminuir o ritmo de trabalho. (E, como tutora de curso à distância, com o tempo que tive para conversar com o meu corpo, sinto-me uma pessoa muito, muito privilegiada...) Se eu estivesse até agora pegando ônibus lotado para chegar ao serviço todos os dias, passando oito horas num trabalho estressante, chegando em casa com os pés inchados e imensa dor nas costas depois de longos períodos sem me alimentar direito, mal tendo tempo de me hidratar adequadamente, (esqueci de beber água) e sem sequer ter tido tempo de conversar comigo mesma em silêncio nem que fosse por 15 minutos, decerto já estaria há pelo menos duas semanas implorando por uma cesárea antecipada para me livrar do “peso incômodo” desse bebê que está na minha barriga... Eu tenho consciência que fiz escolhas diferenciadas, que me possibilitaram estar pensando em tudo isso, mas sei também o quanto isso é raro, e difícil...
Há algum tempo, inventaram o raio do “mito do amor materno”. Questionou-se essa coisa da mãe amar o filho incondicionalmente. Disseram que esse amor não existe dessa forma, nunca existiu, e que tudo não passava de uma grande pressão social para cima da mulher, que se via obrigada a amar o filho e ser perfeita. E nesse conceito de “ser perfeita”, incluíram os “fardos” de acordar no meio da noite, amamentar, dar colo, estar em casa. Nada disso é necessário, já que, no lugar do “mito do amor materno”, apareceu o “mito da necessária independência infantil”.
A mulher, dividida entre maternidade e vida profissional, quase sempre prioriza a segunda... Por escolha?
Não é o que parece, no discurso delas... Por mais que isso tenha uma roupagem de “libertação feminina”, as palavras utilizadas pelas próprias mulheres estão repletas de imperativos: eu “tive” que voltar a trabalhar, eu “tive” que parar de amamentar... Mais triste ainda é ver uma mulher desmamar o filho de um mês de idade, preventivamente: “Eu comecei a dar NAN com um mês, porque minha licença-maternidade ia acabar, e fiquei com medo que ele não gostasse de outro leite, já achei melhor ir acostumando aos poucos, para ele não sofrer muito quando eu não estivesse aqui”. Ou então: “Não posso ficar pegando no colo, porque eu não estarei aqui no mês que vem, ele tem que aprender a ficar sozinho, para não sofrer quando eu voltar a trabalhar”. Até o pouco tempo que as mulheres tem para ficar com os seus filhos são usados preventivamente, para educar, “acostumar” a criança com a falta da mãe. Ele precisa entender logo que estará sozinho, precisará se virar sozinho, achar seus próprios caminhos...
Porque nosso modelo social é como a Claudia Leite, que tem o filho em janeiro e em fevereiro está em plena forma, mulherão comandando o Carnaval de Salvador do alto de um trio elétrico... Afinal de contas, gravidez não é doença, os filhos se criam sozinhos e as mulheres PRECISAM ser independentes, assim como as crianças também... Tudo o que questiona isso é doença emocional, é vício, é reprovável e não faz sentido em nosso dito mundo civilizado.
Nessas horas, eu me sinto a própria mulher paleolítica, como diria minha amiga Ana Paula... Nada contra quem acredita em tudo isso, quem DESEJA voltar para o mercado quatro a seis meses depois do nascimento do filho... Mas, de verdade? Conheço pouquíssimas mulheres que desejam isso, sinceramente.
Minha geração coincide com o apogeu da Nestlé. Quem tem por volta de trinta anos foi criado com leite ninho, danoninho, e junto, o mito da independência infantil de que a amamentação era desnecessária. Leite Ninho era bem mais “forte” que leite de mãe. Tinha a vantagem que qualquer um podia dar a mamadeira, e a criança já não teria então uma dependência emocional tão “prejudicial” com sua mãe. Essas crianças cresceriam aprendendo a ser independentes...
Onde estão esses “seres independentes” hoje? A geração Nestlé, de todas que conheço, foi a que menos capacidade teve de fazer escolhas. Somos a geração mais infantil que já existiu. Na faculdade eu me divertia muito vendo mulheres com tom de voz e vocabulário completamente infantilizado. Nossos “independentes Nestlé” não se decidem a deixar de ser adolescentes, não decidiram o que fazer das próprias vidas, muitos moram com os pais e dependem financeiramente deles... Claro que toda generalização é burra, mas é impressionante a incapacidade que temos de escolher e assumir com autonomia as próprias escolhas que fazemos. Porque no fundo, mesmo com a precoce exposição aos desafios e dilemas do mundo adulto, jamais pudemos aprender realmente a “nos virar sozinhos”, como havia sido a intenção dos nossos cuidadores. Aprendemos sim, a sentir uma falta imensa de alguma coisa que ficou lá atrás, e que possivelmente jamais poderá ser completamente resgatada, algo como “a saudade que eu sinto de tudo o que eu ainda não vi...”
Por vezes isso tudo me parece tão infinitamente triste... Que todos os instintos femininos, acabem sendo vistos como obscenos, desnecessários, prejudiciais... Falta muito para um verdadeiro respeito às mulheres, que contemple a multiplicidade de desejos e expectativas naturais que elas acalentam...
Bom, como sou uma pessoa que tem o privilégio de fazer escolhas, João terá direito a: Nascer de um parto que seja mais natural, humano e respeitoso. Eu acredito no amor incondicional. E eu acredito no amor incondicional que sinto pelo meu filho que nem nasceu. Não porque alguém me disse, mas porque não posso deixar de acreditar em algo que estou sentindo.
E por isso, só por isso, poderei ensiná-lo que o mundo nem sempre é bom durante todo o tempo, mas ele sempre terá um lugar aconchegante e cheio de amor à sua disposição...
Meu filho vai aprender que pessoas equilibradas não saem por aí batendo em quem as contraria, menos ainda se a constituição física da outra pessoa for infinitamente mais frágil que a nossa. Para ensinar isso, vou sempre conversar em vez de bater nele. Provavelmente, desse jeito, vai demorar bem mais tempo para que ele entenda, mas, quando ele entender, jamais vai esquecer. O aprendizado nada terá a ver com a raiva e humilhação que sofreu pelo caminho.
A mesma coisa será com relação às frustrações. Ele saberá que nem sempre terei possibilidade de fazer-lhe todas as vontades. Não vou negar-lhe nada de propósito só para ensinar-lhe isso. Não é necessário. Haverá a ocasião em que realmente o atendimento imediato de seu desejo será impossível. E, diante da negativa, ele pode ficar bravo, pode chorar e gritar, porque esses sentimentos são legítimos e ninguém tem obrigação de nascer sabendo como lidar com eles. Mas ele também vai perceber que, com o tempo, aprenderá formas bem melhores de reagir...
Eu vou passear na praça com ele, e vamos brincar juntos. Nos dias de calor, a gente vai brincar de jogar água um no outro, e se molhar inteiro e à vontade. E eu sei que esses momentos serão para ele muito mais inesquecíveis do que vários presentes que não vou comprar.
Falando em momentos...
Meu filho vai mamar no peito. Muito. Mamar exclusivamente, no mínimo até os seis meses, e continuar mamando enquanto quiser. Desfrutarei desses dias como se não houvesse amanhã. Porque sei que realmente não há. Porque nossa mania de não querer “perder tempo” não faz nenhum sentido para as crianças. E, pensando bem, também não faz sentido para mim.
Quantas horas de sono “perderei” porque João quer mamar no meio da noite? Ou porque não está conseguindo dormir? Quanto tempo “perderei” quando tiver mil trabalhos pra fazer e João quiser que eu sente no chão e cante uma musiquinha com ele? Sempre haverá um tempo de dormir, de trabalhar, de ganhar mais dinheiro... Mas ele nunca mais vai ser bebê de novo. Nunca mais vai ser criança...
Já na gravidez eu por vezes acordo no meio da noite, porque ele resolveu brincar, dentro da minha barriga. E esses momentos são tão preciosos e ricos! Nós conversamos. Eu não me importo de acordar no meio da noite para “brincar” com ele, para acolher a comunicação que ele pode me proporcionar agora. Pelo contrário, eu me alegro com essa possibilidade, Porque eu não tenho que acordar às quatro horas da manhã no dia seguinte, não preciso contabilizar cada minuto de sono “ganho” ou perdido... No fundo há tão pouca coisa que importa de verdade na vida... Tão pouca coisa que importa pra sempre... E nossas escolhas acabam nos levando para caminhos de não-escolhas, para coisas que TEMOS que fazer... Sobra tão pouco tempo para o essencial...
É muito maluco ser mãe. É tão maluco ter nove meses para elaborar esse estar-sendo..."

Thais Stella
(há 36 semanas com um bebê na barriga)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Será que atrasar o Corte do Cordão Umbilical é Saudável?

Mais uma controvérsia de procedimentos que envolvem os primeiros momentos de vida dos bebês. Mais uma questão que devemo conversar com os médicos que nos acompanham no momento de parto. Mais um quesito para o nosso plano de parto. A Folha de São Paulo publicou uma reportagem sobre o Corte do Cordão umbilical.
Será que é mais saudável para o bebê que o cordão seja cortado assim que os bebês nascem ou será que é mais saudável que se aguarde por um ou mais minutos? Eduardo Knapp e Flávia Mantovanida comentam o assunto.
"Atrasar corte do cordão previne anemia em bebês Estudo diz que demorar 1 minuto aumenta estoque de ferro e não leva a icterícia.
Médicos contrários à espera dizem que o fato de o bebê receber mais sangue aumenta o risco de excesso de glóbulos vermelhos."
Eduardo Knapp
Folha Imagem
"Bebê no berçário do Hospital e Maternidade Interlagos, que permite que os médicos decidam quando cortar o cordão umblical
Cortar o cordão umbilical assim que o bebê nasce é a conduta mais adotada na maioria das maternidades do país. Mas novos estudos sugerem que esperar um pouco pode aumentar os estoques de ferro e prevenir anemia nos recém-nascidos.
Pesquisa publicada nos "Cadernos de Saúde Pública", da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), comprovou o benefício. Foram acompanhados 224 partos: em 109 deles, foi feito o clampeamento (corte) imediato; em 115, esperou-se um minuto. Três meses após o parto, os bebês submetidos ao corte tardio tiveram um nível maior de ferritina (indicador da quantidade de ferro).
Isso ocorre porque, quando o cordão não é cortado imediatamente, o bebê recebe mais sangue da mãe. "Trata-se de uma das estratégias da Organização Mundial da Saúde para prevenir a anemia, um problema grande no primeiro ano de vida", diz a pediatra Jucille Meneses, vice-presidente do departamento científico de neonatologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).Em 2007, uma revisão de estudos publicada no "Jama" (periódico da associação médica americana) concluiu que o corte tardio é melhor para o bebê.
Segundo a autora do estudo brasileiro, a pediatra Sônia Venâncio, do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, trata-se do primeiro trabalho nacional a fazer essa comparação. "Havia referências internacionais e quis ver se achávamos os mesmos resultados aqui", diz ela, que agora consolida os dados dos bebês aos seis meses.Venâncio optou pelo tempo de um minuto para conseguir a adesão da equipe da maternidade. "Mesmo com essa intervenção menos radical houve diferença no estoque de ferro."
Polêmica
A questão, porém, não é consensual. Especialistas afirmam que o fato de o bebê receber mais sangue aumenta o risco de ele ter policitemia (excesso de glóbulos vermelhos) e icterícia (coloração amarela gerada por excesso de bilirrubina) .
Para Eduardo Cordioli, obstetra e coordenador médico da maternidade do hospital Albert Einstein, o corte precoce é mais seguro. "Quando o bebê recebe muito sangue, não dá conta. Vários trabalhos mostram que ele precisa fazer mais fototerapia [para icterícia]. Acho perigoso abrir mão da segurança."Ele diz que o tema é controverso. "A gente deixa alguns segundos, limpa, corta com calma. Acho saudável esperar um pouco, mas com bom senso."
No estudo de Venâncio, não houve diferença significativa no índice de problemas como icterícia entre os dois grupos. Para a pediatra Ana Lúcia Goulart, chefe da disciplina de pediatria neonatal da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a intervenção é pouco efetiva. "O aporte maior de ferro é feito na gestação. A espera para clampear aumenta muito pouco a reserva do mineral."Ela diz que a maior diferença seria para crianças prematuras, que, como precisam de cuidados imediatos, não deveriam receber o corte precoce. Meneses, da SBP, discorda e diz que, segundo estudos, o corte tardio reduz a necessidade de transfusões sanguíneas e o risco de hemorragias intracranianas em prematuros.
Para Meneses, a regra deveria ser o corte tardio, com algumas ressalvas. A SBP ainda não tem orientação sobre o tema."
Flávia Mantovanida
Reportagem Local
http://www1. folha.uol. com.br/fsp/ saude/sd10022009 01.htm

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Sistema Hormonal do Parto

Vejam só que interessante o texto publicado no Guia do Bebê da UOL em fevereiro/2009. É uma matéria que explica todo o funcionamento hormonal da mulher ao longo da gestação e trabalho de parto. Inclusive o quanto interferências externas como ambiente agitado, luz forte, soro com ocitocina e anestesias interferem no funcionamento natural do corpo feminino.
"Como o corpo produz tudo o que é necessário para que o parto seja um evento seguro, e a conseqüência das interferências nesse processo
É bem sabido que a vida na terra é composta de uma rede que interconecta todos os seres, onde um depende do outro para que o todo subsista. A própria natureza cria sistemas de auto-regulação que favorecem a vida. É como se fosse do próprio “interesse” do todo manter a reprodução dos seres vivos.
Assim, é inato a cada fêmea do reino animal - como a cada mulher - um sistema reprodutivo perfeitamente organizado para a manutenção da espécie e para que gerar, gestar, e parir sejam experiências seguras para a mulher. Num parto sem perturbações, o próprio organismo humano se ocupa de produzir analgésicos (beta-endorfinas) que aliviam as dores do parto, ou de atingir um pico de ocitocina que previne hemorragia pós-parto, por exemplo.
Mesmo sem receber informações sobre o que deve ser feito, sem ser “educado” para o parto, o corpo feminino será capaz de realizá-lo, da mesma maneira como realiza qualquer outra função fisiológica sem que haja necessidade de um comando racional para acionar esse mecanismo.

O parto é um evento fisiológico
Em seus seminários, o obstetra francês Michel Odent lança sempre a pergunta: “qual é a parte mais ativa em uma mulher em trabalho de parto?” - o cérebro. É ele que comanda todas as contrações uterinas, a intensidade com que acontecem, o ritmo do trabalho; é o cérebro que acionará e liberará no organismo da mulher hormônios que vão além do nascimento em si, agindo na transformação da mulher (e todas as outras fêmeas) em uma mãe. Alguns hormônios atuam não apenas no nível físico, mas também no nível comportamental e emocional, como a prolactina, que ativa o instinto materno, ou as beta-endorfinas que criarão o laço de dependência e cuidado entre mãe e filho.
Há milhares de anos esse mecanismo fisiológico tem permitido que a espécie humana se perpetue. As intervenções médicas nesse processo, contudo, têm acarretado partos difíceis, traumáticos, e com seqüelas comportamentais e emocionais, que se mostram seja nas mulheres com depressão pós-parto ou sentindo-se incapazes de cuidarem de seus filhos, seja na instituição de uma sociedade mais violenta, devido aos seus “novos integrantes” não terem recebido doses de hormônios previstos pelo cérebro.
Hormônios sintéticos (utilizados para induzir e/ou acelerar o trabalho), analgésicos, epidurais, ou mesmo condições externas como luz forte, por exemplo, podem interferir nessa rede hormonal e interromper o encadeamento fisiológico e a seqüência do trabalho. Hormônios sintéticos causam efeitos físicos em determinada parte do corpo, mas não atuam no comportamento como os hormônios produzidos pelo próprio cérebro, além de possuírem uma ação isolada, não sendo regulados de acordo com o que está acontecendo no resto do corpo da mãe e do bebê.

Hormônios naturais x Hormônios Sintéticos
Quando é ministrada ocitocina sintética a uma mulher durante o trabalho de parto, o número de receptores de ocitocina no útero é reduzido pelo corpo para prevenir uma estimulação em excesso. Isso significa que a mulher tem maiores riscos de hemorragia pós-parto, pois sua própria liberação de ocitocina, crítica nesse momento para contrair o útero e prevenir a hemorragia, será inútil devido ao baixo número de receptores.
A ocitocina materna atravessa a placenta e entra no cérebro do bebê durante o trabalho, agindo para proteger as células cerebrais fetais “desligando-as”, e diminuindo o consumo de oxigênio em um momento em que os níveis de oxigênio disponíveis para o feto são naturalmente baixos. A ocitocina sintética, porém, não tem a capacidade de atravessar a parede placentária, e não atingirá o organismo do bebê.
Outro efeito da ocitocina sintética é que as contrações produzidas por ela podem acontecer muito próximas umas das outras, impedindo que o bebê se recupere da pressão sofrida pelo útero. Em condições normais, o cérebro da mãe libera a ocitocina por meio de pulsações, e como os dois organismos – mãe e bebê - estão em comunicação durante o trabalho de parto por meio do fluxo sanguíneo comum, o cérebro conseguirá “ler” o nível de catecolaminas liberada na corrente sanguinea pelo bebê, regulando a intensidade e o ritmo das contrações de acordo com o nível de estresse vivido pelo bebê e pela mãe.
Os níveis de todos os hormônios presentes no momento do parto são regulados de acordo com o andamento do trabalho e do estado físico em que se encontra a mãe e o bebê. A alteração de um só elemento desestrutura toda essa delicada rede, cujas conseqüências se estendem para o pós-parto, o aleitamento e a relação emocional entre mãe e filho. Nos momentos finais da preparação do bebê para o nascimento, os hormônios atuam para amadurecer os pulmões e regular o sistema termogênico (regulação térmica) do recém-nascido.

Os danos causados por interferências no sistema hormonal do parto
Durante o período pré-natal, o cérebro do bebê está mais vulnerável a danos irreversíveis e estudos indicam que substâncias ministradas por volta da hora do parto, mesmo em pequenas doses, podem causar efeitos colaterais na estrutura do cérebro e na química do recém-nascido que talvez não sejam claros até a idade adulta.
Os medicamentos ministrados à mãe entram imediatamente na corrente sangüínea e vão igualmente ao bebê, e alguns desses medicamentos serão absorvidos preferencialmente pelo seu cérebro7. A meia-vida das substâncias ministradas (ou seja, o tempo que se leva para reduzir em 50% o nível do medicamento da corrente sangüínea) é muito maior no organismo do bebê após o corte do cordão umbilical. A buvicaína, por exemplo (medicamento derivado da cocaína, usado como anestésico local), tem uma meia-vida de 2,7 horas no organismo adulto, mas cerca 8 horas em um bebê recém-nascido.
Os medicamentos utilizados em procedimentos de rotina nos partos continuam agindo no corpo da mãe e do bebê por horas após o parto, fazendo com que a mãe esteja sedada no momento de seu primeiro encontro com seu filho, e que o bebê nasça sob efeito dessas drogas, o que causa um imprinting químico no seu cérebro. As conseqüências desse fenômeno poderão ser percebidas na vida adulta como tendência física em reviver tal sensação experienciada no parto, causada por essas substâncias anestésicas. O imprinting previsto pela natureza para o cérebro do bebê neste momento seria aquele realizado pela ocitocina produzida pelo cérebro da mãe e do bebê durante um trabalho de parto sem interferências.
Para que o trabalho e o parto aconteçam de forma ideal, algumas medidas simples podem ser tomadas, que permitem que o sistema límbico (parte primitiva do cérebro, comum a todos os mamíferos) faça o trabalho de produção dos hormônios necessários ao parto e ao imprinting no cérebro da mãe e do bebê. O neo-cortex humano - a parte mais racional e moderna do cérebro, que quando em ação impede o perfeito funcionamento dos comandos do sistema límbico, que comanda as funções fisiológicas previstas para o parto9 - é estimulado por luzes fortes, pela construção de um raciocínio por meio da linguagem, pelo frio (libera adrenalina), e pela sensação de estar em risco. Evitar todos esses fatores é a condição básica para que o parto seja facilitado, e que o corpo coloque em ação o modelo fisiológico previsto para um parto seguro e prazeroso. "

por Letícia Koehler

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Doulas

O que é Doula?
São profissionais especialmente capacitadas para oferecer apoio físico e emocional à mulher, estimulando e orientando a gestação, o parto e a amamentação saudáveis e conscientes.

Quais os benefícios do acompanhamento de uma Doula?
Maior harmonia da mulher com sua gestação e parto, que passam a ser vistos como etapas naturais à vida. Com isso, a mulher se sente mais segura, reduzindo o tempo do trabalho de parto, o uso desnecessário de anestesias, o número de cesarianas e das complicações obstétricas. Por outro lado, a interação mamãe, papai e bebê é estimulada, facilitando a amamentação e a satisfação com a experiência do parto e, conseqüentemente, reduzindo a incidência de depressão pós-parto.

Como Funciona?

• Encontros durante a gestação para ajudar na preparação do casal e no planejamento do parto.
• Acompanhamento do trabalho de parto e nascimento em casa ou no hospital.
• Suporte no pós-parto.

O que a Doula faz?
• Orienta o casal, esclarecendo mitos, explicando termos médicos e procedimentos hospitalares, possibilitando assim escolhas conscientes e bem informadas.
• Promove encorajamento, tranqüilidade, carinho e apoio à gestante antes e durante o parto
• Oferece conforto físico por meio de massagens, relaxamento, técnicas de respiração, posições e movimentações que auxiliem o progresso do trabalho de parto e diminuição da dor e desconforto.

O que a Doula não faz?

• Não realiza qualquer procedimento médico ou clínico.
• Não substitui qualquer dos profissionais envolvidos na assistência ao parto.
• Não substitui o acompanhante escolhido pela parturiente.
• Não discute procedimentos com a equipe médica ou questiona decisões.

Parto de Gente

Parto de Gente é um programa de atendimento e orientação a mulheres (e homens) gestantes ou durante o período de parto e/ou pós-parto, seja pelo atendimento psicológico, aulas de yoga para gestante, massagens em bebes e, principalmente, por meio do atendimento de uma Doula.