quarta-feira, 27 de maio de 2009

Cesariana: A Polêmica das Taxas II

Sobre o mesmo texto (Cesariana: A polêmica das Taxas) um outro médico obstétra atuante em Porto Alegre, Ricardo Jones, faz um breve comentário que quero compartilhar com vocês:
"...Analisem só esta parte interessante da argumentação do colega:"A primeira questão que deve ser combatida refere-se aos supostos malefícios da cesariana. Baseado nisto é que as políticas de saúde combatem o médico. Ele passa a ser o vilão do sistema por ser o único que pode realizar a cesariana. Se houver uma desqualificaçã o da cesariana, torna-se mais fácil desqualificar o médico. Para este objetivo, "armam-se" de dados e de estudos enviesados e, principalmente, de informações falsas."
RJ: O que eu acho curioso é que ele... tem razão.Mas a frase pode ser lida ao inverso: "Se houver uma exaltação da cesariana, do modo cirúrgico de ter filhos, torna-se mais fácil enxergar o médico como único capaz de assegurar a qualidade do atendimento à gestante. Para este objetivo os médicos armaram-se de dados, estudos inviesados e, principalmente, informações falsas." Ao argumentar contra a humanização do nascimento o colega desnuda o principal elemento que construiu no imaginário social a supremacia dos médicos, tornando-os os assistentes principais do parto: o recurso tecnológico, sem o qual seríamos "parteiras destreinadas" . Ineg;avel a importância da cesariana para salvar vidas, mas igualmente indiscutível o fato de que os médicos exageraram a sua importância (e uso) como forma de fazer valer seu recurso exclusivo: a cirurgia.
Outra afirmação que chega a ser engraçada:
"Prova disto é a total falta de importância a duas grandes questões que bastante influenciam as altas taxas de cesariana: processos judiciais, o que leva a uma medicina defensiva, e a violência das grandes cidades que leva a um temor de assistência a partos no turno da noite."
RJ: Na parte dos processos judiciais ele tem razão, e é nessa parte que se estabelece a conexão entre as responsabilidades da sociedade civil - pela forma como nascemos - e a parte do médico - como cuidador do parto. Somente teremos verdadeira humanização quando a sociedade como um todo realmente quiser. Enquanto os médicos humanistas forem vítimas de perseguição por valorarem o parto normal e por ajudarem mulheres a conseguirem seus sonhos de parto, seremos presas do modelo vigente, em que TODOS perdem. Perde a sociedade pelas aumentadas taxas de mortalidade materna e neonatal (sim, é verdade, apesar dos recursos retóricos do nobre tocólogo), e perdem os médicos por não conseguirem propiciar às gestantes o parto que elas sonham. Entretanto, a outra parte da argumentação parece piada... "Médicos fazem mais cesarianas por medo de serem assaltados".Ora... dava para escolher algo mais consistente. Parece que o nobre colega está tentando tapar o sol com a peneira.Mas e os médicos plantonistas, que JÁ estão no hospital? Porque fariam cesarianas em exagero?Olha... excesso de cesarianas deve ser debatido com mais seriedade, menos recursos desesperados e mais coerência.Em resumo:A humanização do nascimento está incomodando."
Ricardo Jones

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