quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Do Bom e do Melhor

Leila Ferreira é uma jornalista mineira com mestrado em Letras e doutorado em Comunicação que, apesar de doutorada em Londres, optou por viver uma vidinha mais simples em Belo Horizonte. E ela escreveu um bélissimo texto "DO BOM E DO MELHOR", isto me fez parar para pensar na nossa questão do Parto. Sempre convivêmos com o parto natural, domiciliar e de repente optamos pela cesárea. Seria esta a MELHOR opção sempre? Seria esta a melhor opção para nossos filhos nascerem? Acredito piamente que não. Então sugiro mais esta reflexão...

"Estamos obcecados com "o melhor". Não sei quando foi que começou essa mania, mas hoje só queremos saber do "melhor". Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho. O bom, não basta.
O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os outros pra trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com "o melhor". Isso até que outro "melhor" apareça - e é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer. Novas marcas surgem a todo instante. Novas possibilidades também. E o que era melhor, de repente, nos parece superado, modesto, aquém do que podemos ter. O que acontece, quando só queremos o melhor, é que passamos a viver inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno desassossego.
Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho no que falta conquistar ou ter. Cada comercial na TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos. Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros (ah, os outros...) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores salários. Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás, de preferência com o melhor tênis.
Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos. Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente. Se não dirijo a 140, preciso realmente de um carro com tanta potência? Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é o melhor cargo da empresa? E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço do meu quarto? O restaurante onde sinto saudades da comida de casa e vou porque tem o "melhor chef"? Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora existe um melhor e dez vezes mais caro? O cabeleireiro do meu bairro tem mesmo que ser trocado pelo "melhor cabeleireiro" ? Tenho pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixado ansiosos e nos impedido de desfrutar o "bom" que já temos.
A casa que é pequena, mas nos acolhe. O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria. A TV que está velha, mas nunca deu defeito. O homem que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que os homens "perfeitos". As férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, mas vai me dar a chance de estar perto de quem amo. O rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que me constituem. O corpo que já não é mais jovem, mas está vivo e sente prazer. Será que a gente precisa mesmo de mais do que isso? Ou será que isso já é o melhor e na busca do "melhor" a gente nem percebeu?"

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Encontro de Gestantes!

Hoje, quarta-feira (07/10) teremos mais um encontro de gestantes na Lilamoara (antigo Núcleo de Yoga) - Rua Domingos Fernandes, 65 Trujillo. Começaremos as 19hs30min.
Espero você lá!!!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Exposição de Fotos - Parto com Prazer

O fotógrafo Marcelo Min vem fotografando, nos últimos anos, vários partos "conscientes", partos que podem ser mais ou menos dolorosos, caseiros ou hospitalares, com médicos ou com parteiras, mas que, sobretudo, são conduzidos por mães que sabem o que e porque querem.
Hoje será a abertura de uma exposição na Unicamp, com fotos de vários partos que o Marcelo acompanhou. As fotos são lindas e emocionantes (um dos partos da exposição eu acompanhei e quase apareço em uma foto).
Veja o relato abaixo e o link para as fotos da exposição (que estará aberta ao público de 02 a 30 de outubro). O texto é da jornalista Luciana Benatti.

Se no parto há um desafio, é fazer com ele nos pertença. Que o primeiro instante da vida dos nossos filhos tenha a marca de nossa singularidade. Que eles não sejam arrancados de nós pela lógica do quanto mais rápido e indolor, melhor. Não somos um um colo que dilata, uma bolsa que rompe, um útero em contração. Somos essa vida que gerou outra vida. Cuja única possibilidade de imortalidade é dar à luz um novo ser.

Como a vida, o parto é caos, é dissonância. O que nos faz extraordinárias é justamente o fato de termos um ritmo próprio, que varia imensamente de mulher para mulher. Mas ao construir um parto aprisionado em protocolos médicos, que nega o nosso protagonismo, perdemos aquilo que nos humaniza. Se permitimos que nos roubem nossa consciência de que somos capazes de parir, nos deixamos reduzir a um corpo defeituoso, que se contorce em dores e é incapaz de se abrir para dar passagem aos nossos filhos. Abdicamos da marca humana. E assim, morremos enquanto mulheres.

Andréia, Denise, Erika, Eva, Ilka, Isadora, Josy e Vanessa, que souberam viver de forma prazerosa e singular a experiência de parir, não são diferentes de mim, nem de você. Cada uma a seu modo, em casa, no hospital ou na casa de parto, trilharam aquele que deveria ser um caminho disponível a todas as mulheres. Em sua busca, informaram-se e procurarm apoio em profissionais que acreditavam que elas seriam capazes. Por isso, mantiveram-se inteiras, com a consciência da vida vivida, num corpo que se preparava para a chegada de um filho. Pariram intensamente.

Marcelo Min, o autor destas fotos, descobriu no nascimento de seu filho Arthur, no final de 2007, que nem só de momentos árduos se faz um parto. A dor é um elemento sempre presente, constatou, mas não o único. Nem o mais importante. Confiança e medo, alegria e mau humor, energia e cansaço se alternam, se fundem e transbordam numa experiência emocionante e para sempre lembrada como prazerosa. É livre a mulher que contempla a travessia do parto não atenta a suas dores, mas apaziguada pela certeza de viver um momento único.

Cada um destes retratos é uma janela para o renascimento de alguém como mãe. Para a grandeza de maridos que as apoiaram e estiveram ao seu lado nessa busca. Para a generosidade do profissional que aprendeu a aceitar seus limites, respeitar a natureza do corpo feminino e intervir apenas quando necessário.

Estas imagens ganharão um sentido para cada um. A mim, elas mostraram como é possível unir duas palavras que a sociedade moderna teima em querer separar: parto e prazer.

Para ver todas as fotos que fazem parte da exposição Parto com Prazer, clique aqui.