Hoje será a abertura de uma exposição na Unicamp, com fotos de vários partos que o Marcelo acompanhou. As fotos são lindas e emocionantes (um dos partos da exposição eu acompanhei e quase apareço em uma foto).
Veja o relato abaixo e o link para as fotos da exposição (que estará aberta ao público de 02 a 30 de outubro). O texto é da jornalista Luciana Benatti.
Se no parto há um desafio, é fazer com ele nos pertença. Que o primeiro instante da vida dos nossos filhos tenha a marca de nossa singularidade. Que eles não sejam arrancados de nós pela lógica do quanto mais rápido e indolor, melhor. Não somos um um colo que dilata, uma bolsa que rompe, um útero em contração. Somos essa vida que gerou outra vida. Cuja única possibilidade de imortalidade é dar à luz um novo ser.
Como a vida, o parto é caos, é dissonância. O que nos faz extraordinárias é justamente o fato de termos um ritmo próprio, que varia imensamente de mulher para mulher. Mas ao construir um parto aprisionado em protocolos médicos, que nega o nosso protagonismo, perdemos aquilo que nos humaniza. Se permitimos que nos roubem nossa consciência de que somos capazes de parir, nos deixamos reduzir a um corpo defeituoso, que se contorce em dores e é incapaz de se abrir para dar passagem aos nossos filhos. Abdicamos da marca humana. E assim, morremos enquanto mulheres.
Andréia, Denise, Erika, Eva, Ilka, Isadora, Josy e Vanessa, que souberam viver de forma prazerosa e singular a experiência de parir, não são diferentes de mim, nem de você. Cada uma a seu modo, em casa, no hospital ou na casa de parto, trilharam aquele que deveria ser um caminho disponível a todas as mulheres. Em sua busca, informaram-se e procurarm apoio em profissionais que acreditavam que elas seriam capazes. Por isso, mantiveram-se inteiras, com a consciência da vida vivida, num corpo que se preparava para a chegada de um filho. Pariram intensamente.
Marcelo Min, o autor destas fotos, descobriu no nascimento de seu filho Arthur, no final de 2007, que nem só de momentos árduos se faz um parto. A dor é um elemento sempre presente, constatou, mas não o único. Nem o mais importante. Confiança e medo, alegria e mau humor, energia e cansaço se alternam, se fundem e transbordam numa experiência emocionante e para sempre lembrada como prazerosa. É livre a mulher que contempla a travessia do parto não atenta a suas dores, mas apaziguada pela certeza de viver um momento único.
Cada um destes retratos é uma janela para o renascimento de alguém como mãe. Para a grandeza de maridos que as apoiaram e estiveram ao seu lado nessa busca. Para a generosidade do profissional que aprendeu a aceitar seus limites, respeitar a natureza do corpo feminino e intervir apenas quando necessário.
Estas imagens ganharão um sentido para cada um. A mim, elas mostraram como é possível unir duas palavras que a sociedade moderna teima em querer separar: parto e prazer.
Para ver todas as fotos que fazem parte da exposição Parto com Prazer, clique aqui.
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