terça-feira, 10 de março de 2009

Parto é vida!

Veja a reportagem escrita por Carla Arruda, doula aqui de Sorocaba e Itu. Suscinta, mas bastante interessante! Você pode encontrar essa reportagem também no link: www.itu.com.br
"O nascimento tem hora para terminar ou maneira certa de ocorrer"
Atualmente o assunto parto normal ou parto natural tem tido espaço em diferentes programas de rádio e televisão, além de propagandas de incentivo do governo. Mas o que isso significa? Por que precisamos dizer que o nascimento é algo natural? Refletindo a respeito pensei em perguntar se alguém já tinha visto alguma campanha ou propaganda como "Alimente-se" ou "Exercite-se" e meu desencanto foi descobrir que sim, temos propagandas e campanhas para tudo isso. O que acontece conosco? Precisamos ser lembrados do que é viver?

Tenho visto muito essa necessidade na minha atuação com gestantes na região, contexto que também se repete em muitas cidades de nosso país: mulheres pouco informadas e temerosas, sociedade descrente na capacidade natural da mulher de parir, falta de auxílio e compreensão por parte dos profissionais.

O parto tornou-se um evento com hora marcada, assim como uma reunião, ditado pelo milagre da medicina – a cesárea, seja pela suposta praticidade, ausência de dor ou ainda, a não possibilidade de um corpo sadio em parir – falta dilatação, bacia estreita, bebê preguiçoso e por ai vai. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 15% dos nascimentos necessitam ocorrer por cesárea, o que demonstra que esse procedimento sim é necessário, mas na minoria dos casos. No entanto, nosso país é campeão mundial de cesáreas, contrariando países de primeiro mundo.

Quando não visto como um evento com hora marcada, o nascimento tem hora para terminar ou maneira certa de ocorrer – como se o natural tivesse protocolo -, trazendo consigo uma cascata de intervenções muitas vezes invasivas. A OMS também cita que muitos procedimentos hospitalares usados de forma rotineira devem ser resguardados a casos necessários – como o corte perineal (episiotomia) e a posição de titotomia (deitada).

Precisamos olhar para nós e para aquelas que carregam nosso futuro no ventre e entender que gerar uma vida é algo natural e fisiológico e não um procedimento ou protocolo, algo a ser medido e remediado. Já adianto que não proclamo o fim de pré-natal ou acompanhamento médico, mas falo em prevenção e promoção de saúde. As tecnologias devem estar a disposição a partir do momento em que uma mulher sadia passa a apresentar algum quadro patológico que necessita de apoio.

A mulher nasce, aprende a andar e comer, convive socialmente, amadurece e gera; parir também é um processo ativo comandado por seu corpo, instintivo. Uma mulher em trabalho de parto não necessita ser internada num hospital como quando estamos doentes e necessitamos que alguém nos ajude na cura. Ela precisa ser acompanhada, acolhida e se necessário, auxiliada, seja em sua casa, em uma casa de parto ou em uma maternidade.

Precisamos afirmar que o parto e o nascimento são processos naturais, pois a vida moderna nos pregou uma peça, tirando o direito aos nossos instintos e trazendo conseqüências ainda silenciosas, como a depressão pós-parto, recém-nascidos com problemas respiratórios e outros. Para isso, informar, questionar, oferecer redes de suporte como grupos, enxergar o outro como ser individual, exigir que direitos sejam respeitados e desmistificar esse marco na vida feminina e familiar me parece um caminho certo a trilhar, mesmo que longo. Assim como o parto, renovar conceitos é uma jornada que deve ocorrer no seu tempo e de forma natural. "

Carla Arruda é terapeuta ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos, especialista em medicina chinesa e Acupuntura pelo CETN-Sorocaba e atua como doula pela humanização do parto e nascimento na região de Sorocaba e Itu. Coordena voluntariamente o Grupo de Gestantes na UBS Vila Hortênsia de Sorocaba e também é uma das organizadoras do Espaço Ishtar da mesma cidade.

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